terça-feira, 4 de novembro de 2014

Sinfonia dos Aflitos, Capítulo 4: Sozinhos...

            A mente do Encanador naquele momento havia se esvaziado, ele apenas observava a terrível cena bem a sua frente, assim como uma estatua assiste os dejetos soltos pelas aves virem em sua direção sem poder fazer nada. Não conseguia mover o seu corpo, ou pelo menos imaginava que não. A mão de sua filha Rachel fez com que ele despertasse para o mundo real, obrigando-o a voltar para aquele inferno. A mão frágil e gélida da garota suava frio ao tentar apertar com toda sua força a imóvel mão de seu pai. – Papai… Pa-papai… Os monstros… – Aquela voz perturbada e falhada ecoou em sua mente. A inocente voz da menina abalou seu coração, criando uma balada de emoções dentro de seu peito. Ele não poderia assistir sua pequena garotinha ser devorada até os ossos pelos mortos ambulantes, porém, o que ele poderia tentar fazer para impedir?

            Quando a esperança começava a sumir de seu coração, uma forte luz vinda do lado esquerdo da rua fez com que diversas criaturas fossem jogadas para longe. Completamente sem reação, bem a sua frente ele conseguiu avistar um carro militar passando sobre os corpos degenerados dos mortos que ousavam caminhar, mesmo depois de tirarem suas vidas. Meio a luz uma voz forte foi escutada, ela vinha do carro que acabara de salva-los da morte certa.


- Rápido! Vocês três, entrem aqui! – A voz havia sido clara, não deveriam passar nem mais um instante parados naquele lugar. Os três nunca foram tão rápidos correndo até um automóvel, nem mesmo em dia de chuva. Dentro do carro militar de coloração esverdeada, puderam notar apenas dois homens em seu interior, o soldado que guiava e o seu companheiro. O soldado que estava na direção acelerou bruscamente para escapar do castelo dos horrores que ali havia se tornado. Ele cortava o máximo possível entre as vias e os automóveis abandonados. O homem no passageiro virou sua atenção para Eric, Rachel e Kurt.


- Algum de vocês encontra-se ferido? – Indagou duvidoso em um tom bastante serio, assim como um verdadeiro soldado deve ser. Todos os três balançaram suas cabeças de forma negativa, sem produzir nenhum barulho. Continuou. – Algum de vocês esta portando equipamentos eletrônicos, como maquina fotográfica, celular, gravador, ou câmera de vídeo? - Interrogou ainda mais serio os três passageiros, porém, a mesma resposta negativa foi produzida por eles, criando um ar de duvida na mente do encanador.


            Eric achou aquelas perguntas um tanto estranhas, mas não deu a devida atenção para aquele assunto, pois se sentia aliviado em estar a salvo. Apertava sua filha meio aos braços quando o carro adentrou um enorme pátio aberto com uma extensa cerca ao centro, onde quinze soldados armados com fuzis encontravam-se exatamente do lado de fora aparentemente guardando as diversas pessoas que encontravam-se no seu interior. Assim que o carro se aproximou da enorme grade metálica, os gritos das pessoas tornaram-se audíveis, muitas delas gritavam por socorro, usando frases como “Nos tirem daqui.”, “Eu quero sair daqui.”, entre outras. Pararam justamente ao lado da entrada do cercado que era protegida por dois guardas. O soldado que havia feito o interrogatório apontou seu fuzil contra as três pessoas pousadas no banco de trás, desta vez proferindo frases muito mais agressivas. – Rápido, quero vocês três fora do carro… Entrem ai dentro! – Eric e Kurt se impressionaram com a mudança de comportamento do militar, obrigando-os a entrar no cativeiro improvisado, cheio de pessoas desesperadas e sofrendo. Os três desceram do carro com muita calma, um ajudando o outro sem fazer qualquer pergunta. O mesmo militar sem pronunciar qualquer aviso prévio, começou a revistar e retirar qualquer pertence em pose dos três, até mesmo seus documentos e carteiras haviam sido recolhidos. Em seguida já se viam obrigados a entrar na prisão comunitária, onde a solidão apenas aumentava graças à enorme quantidade de pessoas gritando por socorro, ignorando que outros indivíduos também partilhavam da mesma agonia, demonstrando que em um momento difícil o ser humano apenas pensa em sua própria proteção.


            Eric agarrou sua filha no colo e correu em direito a uma folga entre uma pessoa e outra, chegando perto de um dos militares que vigiavam o cercado.


- Por favor… Você, por favor. – Não conseguia nenhuma resposta. – Senhor, por favor… Eu estou com minha filha, quero saber o que esta acontecendo. – O soldado não mostrava indícios de querer conversar. – Estou te implorando, por minha filha. – Ao ouvi-lo discretamente voltou sua atenção ao protagonista, talvez com receio pela situação que se encontravam, ou talvez pela própria garotinha com medo. O homem olhou para os dois lados e então virou parcialmente o seu corpo de encontro a grade, dando a entender que estava apenas observando o outro lado do continuo cercado.


- Vocês todos se encontram em quarentena militar, nos não podemos deixar ninguém livre correndo o risco de infectar mais civis. Ainda estamos aguardando ordens superiores para sabermos o que fazer, até lá vocês deveram ficar ai dentro. – Eric não havia entendido perfeitamente suas palavras graças o barulho que as demais pessoas produziam, mas entendeu a seriedade do assunto… Era provável que algumas pessoas dentro da “proteção” ainda estivessem em fase de mutação, ou seja, se tornando uma das criaturas canibais que se alimentavam das pessoas que ainda possuíam vida em seus corpos.


- Mas que Merda! – Praguejou indo de encontro a Kurt que estava escorado a grade, possivelmente descansando seu corpo e tentando colocar sua mente em ordem. Eric sentia a tensão transbordar pela orbita dos olhos de seu amigo, sabendo que ele agora era como uma bomba relógio apenas esperando o último “tic-tac” para finalmente cumprir o objetivo de sua existência, explodir.


- Cara… Você esta bem? – Indagou curioso observando seu companheiro de fuga, que apenas retribuiu com um breve olhar tristonho. – Temos que tomar cuidado… Acho que mesmo aqui dentro não estamos seguros. – Recostou-se também contra a gélida grade, sentindo os pelos de seu corpo arrepiarem-se pela baixa temperatura, graças ao ambiente aberto que tornava tudo aquilo uma terrível geladeira natural. Apertou sua filha contra o corpo, tentando passar o natural calor humano para a pobre criança. Observava à fumaça produzida por sua respiração, notando ainda os incansáveis pedidos das pessoas ao implorarem por suas liberdades. Apenas agora começou a cair a ficha do porquê daquelas pessoas estarem pedindo com tanto alvoroço para saírem dali. “Merda… Estamos perdidos!” entendia a situação. Observou que sobre a extensão do enorme pátio algumas pessoas se encontravam deitadas em pleno sereno, com seus corpos encolhidos, assim como um mendigo ao tentar se aquecer em um noite fria de inverno. 

“A friagem irá matá-los mais rápido… É obvio que aqui dentro ainda tem pessoas doentes!”, tentou imaginar até quando elas permaneceriam deitadas, ou se elas realmente estariam infectadas. Ainda tentando pensar notou que a iluminação produzida pelos holofotes começou a piscar freneticamente. Aquilo fez as impacientes pessoas começarem a entrar em desespero, todas elas pareciam completamente loucas.


            Um soldado, trajando sua farda se aproximou da grade, em mãos uma extensa mangueira de bombeiro. Com apenas um sinal, o jato d'água começara a jorrar. Pessoas começaram a sair da grade, procurando abrigo ou se esconder dos jatos. O encanador e seu grupo se encolheu, molhados, porém, a água cessara. Por que haviam molhado todos? Seria uma prevenção para a descontaminação? Para afastar as pessoas da grade? Para acalmá-los? Ou para no frio, todos morrem?


- E eu imaginando que isso não poderia piorar… – Ouviu ao seu lado a voz triste de Kurt. O encanador voltou sua atenção para a extensão do pátio, quando notou que algumas das pessoas deitadas começaram a lentamente se levantar. Não conseguiria ouvir se estavam gemendo graças à euforia que havia tomado a prisão, ou por algo pior. Toda aquela cena parecia mais um maldito filme de terror: pessoas que deveriam estar mortas perambulavam lentamente com seus olhares vazios em direção de suas indefesas vítimas, encurralando-as contra uma grade tão fria quanto à noite. A luz piscava freneticamente, aumentando o pavor das pessoas ao perderem parcialmente suas visões graças à iluminação falha. As imagens melancólicas dos mortos sumiam e apareciam mais próximos de suas carnes, produzindo um terror absoluto em sua mente, perturbando sua consciência ao saberem que sua morte caminhava de forma lenta e irrevogável. Tudo parecia perdido a cada segundo que passava, a cada momento que as mandíbulas assassinas se aproximavam mais de suas vidas, a cada segundo…


- Droga venha Rachel! – Eric puxou sua filha com força ao notar as primeiras gotas de sangue serem esguichadas com gosto pelas veias rompidas dos corpos humanos ao terem a carne dilacerada. Os primeiros gritos de desespero começaram a ser produzidos pelas vítimas ao sentirem sua carne sendo mastigada ainda presas ao corpo, percebendo que a agonia apenas começara, e seria prolongada.


            O encanador começou a correr as cegas para longe do massacre. Conseguia ouvir os pavorosos gritos de agonia, a cada passo que dava em direção ao desconhecido. Kurt vinha logo atrás em passos alucinados tomados pela beira da loucura ao presenciar aquela chacina em massa. Sua mente perturbada o fizera tropeçar e cair três vezes antes de se aproximar do homem e sua filha. Em instantes encontravam-se juntos a uma grade, gritando para os soldados que apontavam aleatoriamente seus fuzis para o interior da prisão.


            Então a escuridão tomou conta do lugar, os holofotes finalmente faleceram. A única iluminação no ambiente era a luz natural produzida pela lua, que era parcialmente coberta pelas nuvens da noite. Mais a frente era possível ver a sombra das pessoas desesperadas correndo de um lado para o outro, e os flashes dos disparos viajando direto para o interior da substituída prisão, aquilo havia tornado-se um cemitério. 


            Os três rapidamente se abaixaram procurando proteção dos disparos. Eric observava o semblante do grande número de pessoas tentando pular a grade de “proteção”, enquanto os soldados buscavam impedir que conseguissem. Conseqüentemente a grade se rompera, despencando com brutalidade e ferindo muitas pessoas com seus arames farpados. Em frenesi de pavor as pessoas começavam a correr aleatoriamente para os lados, enquanto algumas atacavam os guardas, e outras caminhavam sobre a abertura que acabara de ser criada com esperança de fuga. O encanador notou que pelo menos um terço das pessoas caminhando sobre a grade não possuía o caminhar natural de um ser humano, distinguindo então os mortos ambulantes que agora haviam tomado um maior número entre aquelas pobres presas desesperadas.


- Fiquem quietos, por favor… – Eric olhou o rosto pouco iluminado de sua filha, notando uma triste expressão de espanto enquanto ela observava a cena como um cinema, assistindo varias pessoas serem devoradas, enquanto outras tentavam resistir a inevitável morte que as aguardava, algumas buscavam correr para lugares escondidos pela noite, tentando esconder suas presenças das criaturas lá fora.


            Apenas um único pai parecia realmente preocupado. – Xiiii, não olha filha, olha pro papai, olha pra mim… – Colocava sua mão sobre a face da garota. Sabia que não deveria demorar nem mais um segundo naquele cenário macabro, pois ali seriam alvos fáceis. A primeira coisa que fizeram foi levantar e partir em uma corrida ziguezagueando entre os corpos aparentemente mortos no solo umedecido pela água, assim como tentando desviar dos ambulantes que ainda se encontravam mais atrás do tumulto. Conseguiram passar despercebidos, graças ao grande número de pessoas que ainda combatiam os mortos-vivos, ou que ainda eram dilacerados pelas mandíbulas manchadas dos ambulantes.


- Por aqui… – Pronunciou Kurt com uma voz baixa ao puxar bruscamente o braço de Eric levando-o em direção a um prédio de quatro andares sem iluminação a alguns metros de distancia entre a cerca tombada a direita. Notaram que as pessoas corriam na direção oposta, porém, imaginaram que isso era graças à euforia do momento. Seus corpos se chocaram contra a pesada porta dupla do prédio, a mesma nem mesmo se movera.


- Droga ela esta fechada Kurt… Devemos ir para outro lugar. – Puxava seu amigo a direção oposta quando ele o impediu de continuar. O homem olhava para a face escura – graças à noite. – de seu companheiro tentando entender o porquê dele ter o impedido de continuar.


- Não… Vamos entrar aqui dentro. Não acho que outro lugar seja seguro… Seja lá o que os Militares estavam guardando ele deve estar aqui dentro, sendo assim aqui deve ser seguro. – Não sabia o que estava dizendo, apenas tirara conclusões pelo que havia imaginado em sua mente perturbada, porém, Eric não sabia o que fazer como também não sabia para onde ir. Kurt correu pela extensão do prédio procurando encontrar alguma abertura para que pudessem adentrar a residência. Notou que quase todas as janelas do primeiro andar estavam bloqueadas por pranchas de madeira que impediriam que qualquer coisa entrasse ou saísse. Apenas uma única janela se encontrava desprotegida do bloqueio improvisado. Sem demora o homem pegara um pedaço de madeira que encontrara no chão e partira para destruir o vidro e então abrir um caminho para o lugar que supostamente acreditava ser seguro.


            Ainda em frente à porta Eric começara a reconhecer o ambiente que o rodeava, mesmo estando no escuro conseguira distinguir o lugar a sua volta, e por final descobrir o lugar que estavam prestes a invadir. Este era o único hospital da cidade, local de amparo das vitimas da gripe. Quando isso veio a sua mente um baque agudo de vidro sendo quebrado fez seus pensamentos desaparecerem, e logo em seguida Kurt viera correndo em direção do encanador.


- Rápido consegui achar uma entrada, quase todas as janelas estavam bloqueadas, mais uma delas não estava… Vamos! – Era visível em seus movimentos a excitação e alegria que o homem sentira ao se iluminar com falsas expectativas. Mesmo não entendendo o porquê de sentir em sua mente certa desconfiança o homem seguiu seu amigo guiando sua filha de encontro à janela quebrada. Foram até a parte traseira do prédio para chegarem ao lugar onde Kurt havia quebrado o vidro, o corredor era estreito, com uma pequena escadaria lateral que levara a uma porta metálica. Encontraram algumas caçambas de lixo encostadas sobre a parede. A janela estava muito próxima da escadaria, o que facilitaria sua entrada no prédio.


- Esperem tive uma idéia! – O homem pálido de cabelos escuros como seus olhos demonstrava-se ainda mais feliz. – Não acha melhor eu entrar primeiro e abrir esta porta para vocês? – Apontara para a escadaria e a porta metálica. – Caso não tenha como eu volto eu o ajudo a entrar. Será melhor e menos perigoso para sua filha. – Olhou rapidamente para a menina, brotando um sorriso estranho em sua boca, voltando logo sua atenção para Eric.


- T-tudo bem… – Respondeu sem ter certeza do que deveria falar. O encanador começou a notar a expressão de seu amigo mudar completamente, de apavorado para excitação e alegria completa.


            Acompanhou com o olhar seu amigo correndo em direção a janela, pulando-a rapidamente, adentrando a escuridão sem fim no interior do hospital. Seguiu por alguns instantes em silencio. Mas logo ouvira o barulho de uma porta se destrancar no interior do prédio enquanto caminhava lentamente junto a sua filha de encontro à pequena escadaria. Seus ouvidos estavam ligados no que acontecia dentro do edifício, quando ouvira um grito e fortes baques de passos dentro do lugar. Não podia ver o que estava acontecendo, apenas conseguia ouvir os diversos “Ai meu Deus…” ecoando em todo o ambiente. Antes da imagem de seu amigo aparecer pela janela ele ouvira uma frase diferente pronunciada pelo homem. – Me larguem seus filhos da puta! – O grito fora proferido em pura fúria instantes antes do homem se projetar frente à janela com diversos braços em degeneração tentando puxá-lo de volta, o mesmo tentava se jogar para fora do edifício. Eric viu a imagem de seu amigo lutando para sair do lugar, e a terrível expressão de medo que tomava conta de sua face. – Me ajuda… Por favor! – Sua voz sendo abafada pouco a pouco implorando pela ajuda, enquanto o encanador simplesmente não pudera fazer nada, seu corpo imóvel não demonstrava nem sequer indícios de que pretendia ajudar o companheiro no embate por sua vida. – Você… Por quê? – Foram as ultimas palavras ouvidas antes de assisti-lo ser puxado por completo para dentro do lugar, o barulho frenético de mandíbulas e braços se debatendo eram ouvido claramente. Ele não podia se culpar, não havia o que fazer. O homem já estava condenado, entendia isso, sua sanidade estava na beira do precipício, pronta para mergulhas na maluquice completa. “O que eu poderia ter feito?” ao notar mãos sendo erguidas, agarradas a beirada da janela, revelando uma quantidade enorme de amaldiçoados procurando sair do lugar, entendeu a desconfiança que sentia em seu peito. 

"Que lugar poderia guardar um maior numero de monstros do que um hospital? A maioria das pessoas que estavam doentes procurou o hospital, morreram em seu interior, e continuaram por lá até agora."


            Alguns corpos começaram a despencar sobre o chão, produzindo gemidos próximos ao de sofrimento, ou dor. Eric se virou para a direção oposta do lugar, caminhando de volta ao lugar onde se encontrava a tombada prisão dos mortos. Quando se aproximou do lugar notou corpos abaixados, corcundas, ao se deliciar com a carne morta dos corpos recém abatidos. O lugar permanecia em um silencio total, sendo preenchido apenas pela sinfonia dos aflitos, pela canção dos condenados a vagar eternamente no sofrimento sem fim.




O homem observou a face de sua garotinha, notando um rosto inexpressível frente aquela maldita situação. Sentiu uma tristeza enorme em seu peito ao notar que sua inocente filha havia se acostumado com toda aquela carnificina. Agora, estavam sozinhos…

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Sinfonia dos Aflitos, Capítulo 3: Inferno!

            As palavras de sua filha ressoaram em sua mente, fazendo seu coração ser bombardeado por um temporal de emoções. Ele tinha certeza que ao colocar o corpo de sua mulher no chão, a vida já havia abandonado seus olhos. Voltou sua atenção para a direção apontada por Rachel. Esta visão fez o encanador sentir calafrios dos pés a cabeça. Sentia o frio dominar sua barriga, não um frio natural produzido pelo mal tempo, mas sim aquele frio que sentimos apenas quando vemos, ou escutamos algo que nos faz entrar em puro estado de choque. Era exatamente assim que ele se sentia, em puro estado de choque.

- N-Não… Não pode ser… – Lagrimas escorriam pelo seu rosto tomado por tristeza. Não sabia se aquela pessoa a sua frente era realmente a mulher que sempre amou. Alguma coisa muito parecida com ela se esforçava para levantar, com seu pescoço pendendo para o lado esquerdo, produzindo um gemido tão melancólico como o choro de uma mãe ao perder o filho. Maggie cambaleava tentando manter-se de pé, seus olhos muito brancos observavam Rachel e Eric a sua frente. O sangue gotejava no solo quando ela irrompeu de encontro a família.

- Papai, a mamãe não parece bem… Ela ta me deixando com medo! – A menina abraçou seu pai com força, olhando para o outro lado, evitando encarar o rosto de sua mãe tomado pela insanidade. Eric não tinha a coragem necessária para atirar no filho e na mulher, pelo menos não no mesmo dia, e na frente de sua querida Rachel.

- Filha… Vamos dar um passeio. – Começou a caminhar para trás conforme sua amada aproximava-se. Apertou o passo ao se aproximar da porta. Virou a chave, a porta produziu um barulho, mostrando que estava destrancada. Saiu para o lado de fora da casa, não demorando mais um segundo lá dentro. O dia já começava a entrar no seu entardecer. A neblina agora ganhava uma tonalidade alaranjada. Trancou a porta rapidamente, colocando seu revolver preso a cintura e a calça, encobrindo-a com sua camisa azul manchada pelo sangue de sua mulher.

            Eric observando uma rua completamente vazia. Vazia apenas de pessoas, a extensão da rua encontravam-se diversos carros com as portas abertas, muitos ainda ligados, outros batidos. Tentava imaginar o que havia acontecido, tivera alguma coisa haver com o que acontecera a sua família? Teria aquilo acontecido em outros lugares? Arrependera-se de não ter visto uma ultima vez a televisão de sua casa, para pelo menos ter uma noção do que estava acontecendo a sua cidade.

            Tomou um pequeno susto ao escutar uma batida na porta que acabara de trancar, imaginou sua mulher batendo na mesma, procurando abri-la para sair. Quando ouviu isso acabou por notar uma breve movimentação na casa a frente, seu vizinho Kurt saia às pressas de dentro da casa segurando uma bolsa mediana preta. Ao notar que Eric estava do outro lado da rua com sua filha no colo, correu de encontro a ele ofegante.

- Eric… O que esta fazendo ai parado? – Perguntou como se o encanador estivesse fazendo algo muito errado. – Você não viu nada? Esta tudo um caos… – Parou olhando para o rosto completamente perdido do homem e sua filha.

- M-Me desculpe, mas não estou entendendo… – Tentou fingir que não tinha visto, nem ouvido nada. – Meu filho esta doente, precisa de remédios. – Coçou a garganta, assim como muitas pessoas fazem ao mentir.

- Droga cara, se for pela gripe é melhor deixá-lo ai… As pessoas estão morrendo, e de alguma forma voltando à vida! – Disse indignado. – Mas isso não basta, elas estão comendo as pessoas como canibais… Eu me escondi dentro de casa até tudo se acalmar. Tudo começou hoje de manhã… Não acredito que você não ouviu nada. – Falou com um tom ainda maior de indignação. – Espera… Eu ouvi o barulho de tiro vindo da sua casa… E sua camisa esta manchada de sangue. – Apontou para a camisa azul manchada. Eric observou o vizinho, tentando manter a calma. Ao menos agora tinha certeza que aquilo não havia acontecido apenas a sua família.

- Esta bem… Meu filho estava doente… De alguma forma ele virou um tipo de… Zumbi… Não sei direito. Então ele mordeu o pescoço da Maggie, ela morreu nos meus braços… Ainda vejo a imagem dela na minha frente. – O barulho da porta foi ouvido novamente. – Ela então acordou. Agora ela esta batendo na porta querendo sair… Não pude atirar nela! EU NÃO PUDE CARA! – Alterou sua voz com a raiva que sentia dentro do peito. Kurt levou o dedo até a boca mandando Eric ficar em silencio.

- Não grita… Pode ter mais deles dentro de algumas casas. Você foi mordido? – Perguntou, recebendo sua resposta com o balanço negativo da cabeça do homem. – É melhor a gente ir para outro lugar. Estou indo para a delegacia ver se tem alguém por lá. Venha comigo… Er… Você esta armado? – Eric desta vez balançou a cabeça em sinal de afirmação.

- Muito bem, vamos indo em silencio, me siga. – O encanador acompanhou no mesmo ritmo o seu vizinho, buscando manter o silencio. Ao longe, Rachel viu a janela de sua casa ser quebrada, e a imagem de sua mãe tombar para o exterior da residência, novamente ela se levantou, atordoada, procurando por alguma coisa, talvez o que morder. Aos poucos, eles se distanciaram.

            A caminhada prosseguiu de forma um tanto rápida, cortando caminho pelas beiradas das casas, buscando evitar os lugares mais abertos onde seriam vistos facilmente. Conforme se aproximaram do “centro” da cidade, onde se encontrava o departamento de policia, começaram a notar a movimentação de algumas pessoas, elas caminhavam bem lentamente com seus corpos completamente relaxados. O manto negro da noite já começava a cobrir a cidade, criando uma escuridão desesperadora. A fraca luz dos postes de energia não iluminava completamente a cidade, porém, ajudava bastante na visualização. O ambiente completamente tomado pelos “mortos-vivos” ficara ainda mais aterrorizante com o cair da noite, tornando a cidade um verdadeiro inferno obscuro.

            O chão da cidade começou a ser florido com os corpos que jaziam meio as ruas, corpos realmente mortos, diferentes daqueles que estavam caminhando sem rumo no escuro. Muitos desses corpos encontravam-se mordidos, outros com membros faltando, pintando a rua de vermelho e fazendo os seus passos serem marcados pelas pegadas escarlates. Eric apertou a cabeça de sua filha contra o peito, dizendo no seu ouvido bem baixo para ela fechar os olhos e abrir somente quando ele mandasse. A esperança começava a desaparecer da mente de Eric, não tinha mais certeza de que continuariam vivos após algumas passadas a mais. Sabia que devia sobreviver, não deveria deixar Rachel sozinha em um mundo repleto de estranhos querendo abocanhar suas entranhas até tirar sua vida por completa. Uma menina daquela idade não merecia viver meio aquilo. Sentia-se mais triste agora, não sabendo se conseguiriam escapar, não sabendo se conseguiria manter sua filha a salvo, porém, ele sabia que não iria deixá-la morrer, faria qualquer coisa para manter ela viva, daria sua própria vida se isso garantisse a sobrevivência de Rachel. Teria que sobreviver, iria sobreviver…

            Suas pernas já começavam a se cansar, Kurt ofegava. Suas respirações produziam fumaça, e foi nesse momento que notou e deu por falta de um casaco, tanto para si, quanto para sua filha. A menina tremia meio aos seus braços. Apertava a menina contra o corpo tentando aquecê-la.

- Espere… – A voz de Kurt cortou o silencio, sua mão estava informando que deviam parar. – Escuta! – Falou baixo para ouvirem ao longe um barulho muito familiar. Começaram a caminhar devagar de encontro ao som que a cada passo começava a ficar mais alto. Finalmente o barulho foi confirmado. Eram sons de disparos feitos por armas de fogo. Não era apenas produzido por uma arma, mais sim no mínimo dez delas. Quando deram por si, estavam muito próximos do lugar dos disparos, ao longe conseguiam ver luzes muito fortes, e os disparos contínuos não cessavam. Alguns minutos depois se encontravam frente a um pequeno batalhão do exercito tentando conter o avanço de uma horda daquelas criaturas que antes possuíam sentimentos humanos. Assim que um dos soldados avistou Eric, Kurt e Rachel o mesmo correu de encontro a eles.

- Cuidado, estão vindo cada vez mais dessas coisas… – Proferiu um homem de voz grossa portando um fuzil negro em mãos. – Foram mordidos? – Negaram. – Então venham comigo. Não tem mais ninguém? – Balançaram a cabeça em negação, um pouco atordoados pelos sons dos disparos. O soldado começou a correr na direção de dois grandes holofotes que mantinham os soldados com visibilidade para atirar. Ao passarem por eles, suas visões falharam por alguns instantes, se encontraram de frente com uma pequena escadaria, com suas visões agora mais claras começaram a subir, adentrando em um estabelecimento com boa iluminação onde viram no mínimo setenta pessoas sentadas, caminhando, observando a cena lá fora. Era de fato uma base improvisada para os sobreviventes.

- Vocês estarão seguros aqui dentro. Estamos esperando reforços, então não saiam até que esteja tudo limpo! – Ordenou o homem ao voltar correndo para o campo de batalha. Eric colocou Rachel no chão aliviado do peso que carregara por um longo tempo. Segurava sua pequena mão enquanto caminhava de encontro a Kurt que descansava sentado no chão.

- Obrigado por deixar a gente acompanhar você cara… Ainda bem que nos encontramos… Não saberia o que fazer no meio daquela rua. – O homem sorriu recuperando o fôlego.

- Esta tudo bem, agora nos estamos seguros. – Afirmou abrindo sua bolsa, pegou de seu interior uma pequena garrafa d’água que levou até sua boca com grande prazer, deliciando-se com cada golada. Observou as pessoas ali presente, notando que algumas delas os observavam. Provavelmente estavam tentando identificá-los na esperança de ser algum familiar, ou conhecido.

            Rachel sentou no colo de seu pai quando este se encostou a uma cadeira com uma fofa almoçada presa a ela. Relaxou na cadeira tentando afastar a face de Maggie e Tommas de seus pensamentos. Não conseguia, os tiros o traziam de volta aquele inferno. Sabia que não tinha tempo para ficar triste, precisava manter sua filha segura. Não poderia ser fraco naquele momento terrível, deveria ser forte, mais forte do que todos ali juntos. O único problema é que não se sentia assim…

            Todos ali eram estranhos para Eric e Kurt, não conseguiram identificar nenhuma pessoa conhecida. Conversavam distraídos no interior daquela base, sem saber o que acontecia no seu exterior. Os soldados combatiam os “Zumbis” com todas as forças, porém, mais e mais deles continuavam a aparecer, e a munição continuava a diminuir cada vez mais rápida. Não importava o quanto atirassem muitos deles continuavam a se levantar, ou rastejar. O reforço não chegava, e o tempo para eles, ficava cada vez mais curto.

            Os disparos continuavam a ser escutados lá fora quando uma pequena horda adentrou o lugar, muitas das pessoas começaram a gritar, corriam desesperadas, era possível ver algumas saltarem pelas janelas abertas na esperança de conseguir fugir. Eric apertou sua filha com força nos braços e disparou na direção de uma sala com a porta aberta. Kurt o seguiu, correndo como nunca tinha corrido. Era possível escutar pessoas gritando socorro ao serem mordidas pelas criaturas, enquanto outras eram mordidas tentando combatê-las com os punhos ou com o que encontravam pela frente, desde livros a cadeiras.

            Ao entrarem na sala fecharam a porta com força, colocando rapidamente uma mesa frente à porta na esperança de mantê-la fechada. O lugar era pequeno, um simples escritório, com uma janela ao fundo. Eric correu em sua direção colocando sua filha no chão. Não estavam longe do chão, mais ou menos dois metros do gramado abaixo. Estava escuro lá fora, um pequeno beco entre um “prédio” e outro. Ao longe dos dois lados dava-se para ver a luz da rua.

- Acho melhor a gente tentar, se ficarmos aqui eles vão acabar entrando… – Disse Eric confiante agarrando novamente sua filha. – Kurt eu vou descer primeiro, então você passa Rachel para mim. Tudo bem? – Kurt confirmou eufórico. Foi em direção a janela e começou a descer buscando o chão com seus pés. Em seguida Curt passou Rachel para ele, então jogou sua pequena bolsa e logo foi sua vez.

- Acho que para aquele lado esta cheio deles. – Apontou para a direção de onde haviam chegado, onde a luz era mais forte graças aos Holofotes. – A única direção que temos é essa outra… Melhor irmos com cuidado. – Pegou na mão de Rachel caminhando lentamente na direção contraria da que tinham chegado. No fim do beco, a rua estava vazia, agradecerão por não ter encontrado nenhuma criatura.

- Obrigado… - Falou aliviado. - Agora vamos para onde? – Olhou para Kurt que estava pasmo ao observar alguma coisa à esquerda. Quando Eric olhou para aquela direção viu em outra pequena escadaria uma enorme quantidade de pessoas deitadas enquanto outras arrancavam seus membros e órgãos com as mãos, ou a mordidas, deliciando-se com seus órgãos ainda quentes. Lentamente uma das criaturas se levantou dali, segurando um braço rente à boca, ainda mastigando-o. Seus olhos sem vida brilharam ao notar a presença de Eric e os demais. O gemido da criatura ao largar aquele braço foi longo e profundo, o que fez as demais criaturas voltarem suas atenções para Eric, Rachel e Kurt. O aviso estava dado, mais carne os esperava…

Os olhos do encanador abandonaram seu brilho de esperança, ele apertava forte a mão de sua filha, enquanto seus olhos eram tomados pelo terror… Percebera então que realmente estava no inferno…


segunda-feira, 2 de junho de 2014

Sinfonia dos Aflitos, Capítulo 2: A mãe...

            Na manhã seguinte, a cidade estava tomada por um fraco nevoeiro, que invadira a cidade no meio da noite. O frio que acompanhava aquela neblina era o suficiente para fazer as pessoas da cidade se amontoarem de agasalhos grossos para não deixar o frio rasgar suas carnes como uma faca gélida. A luz do dia iluminava a casa dos Butters. Quase todos se encontravam de pé tomando o café da manhã, o único que ainda estava no quarto era o jovem Tommas. Sua tosse era audível no andar de baixo da casa, e isso preocupava a sua família.

- Querido, a  tosse dele está piorando e com esse inferno lá fora não vamos poder levá-lo até o hospital… É capaz dele piorar de tanto esperar pra ser atendido. – Eric apenas concordou acenando suavemente com a cabeça. Sabia que o garoto iria precisar de cuidados médicos, mas ele certamente iria piorar esperando no frio hospital até ser atendido.

            O barulho da tosse persistia, então o pai do garoto preocupado, caminhou até seu quarto. Ao abrir a porta deparou-se com uma cena desagradável. Acabara por ver seu filho suando frio, enquanto seus olhos se afundavam na face, tomados por um vermelho intenso, como se todo o sangue de seu corpo estivesse no cérebro.

- Filho… Meu Deus, o que está acontecendo? – Correu na direção do garoto colocando em sua testa a mão direita para apenas confirmar o quão quente ele estava. Sua temperatura era suficientemente alta para ser declarada febril. Eric ficou desesperado, não sabendo como reagir perante aquela situação. Correu até a cozinha chamando sua esposa, Maggie, para ir ao quarto. O barulho de passos na casa era muito alto, pois a correria buscando remédios e outras coisas não parava.

 - Meu Deus, o que vamos fazer, ele precisa de um médico urgente! – Falava a mulher com tom impaciente. Eric não podia fazer nada, estava de mãos atadas -  levá-lo ao hospital apenas poderia piorar as coisas. Mas fizera tudo que estava ao seu alcance.
             Quando tudo que era possível fazer foi feito, os pais do garoto desceram as escadas de volta à sala. Ligaram a televisão e começaram a ver as noticias que não paravam de ser anunciadas, o repórter parecia preocupado ao falar. “… Ela continua aumentando, o hospital lotando. Já não temos mais médicos suficientes para tentar atender os doentes, muitos dos médicos também começaram a apresentar sintomas dessa gripe que esta levando a cidade a um caos…” – Desligaram a televisão, pois não suportavam mais ouvir essas noticias que os deixavam mais preocupados.  
            Alguns minutos se passaram desde que a tosse do menino havia cessado, Eric, Maggie e Rachel encontravam-se na sala, quietos tentando pensar em alguma solução. Rachel brincava com suas bonecas quando se assustou ao ouvir o baque seco de madeira no andar de cima. Logo o baque foi aumentando, como se uma pessoa estivesse usando uma bota militar pesada. Em instantes ouviram o barulho alto de alguma coisa rolando pela escada, os dois levantaram rapidamente, observando seu filho rolar escada abaixo produzindo um fraco gemido, assim como uma pessoa amargurada que chora sozinha a beira da noite. Eric mal imaginava que aquela seria a primeira vez que ouviria a sinfonia dos aflitos.   Os pais do garoto correram para ajudar o menino a se levantar. Eric o segurou pelo braço direito, enquanto sua mãe o segurou pelo esquerdo, bem a frente de seu corpo. O garoto se manteve de pé gemendo por alguns instantes, sua cabeça estava baixa. Maggie se espantou ao tocar a pele fria de seu filho, tão fria como se estivesse  morto. Maggie olhava a face de seu marido com espanto quando a cabeça do garoto começou a levantar-se lentamente, o gemido do garoto havia parado. Tudo estava muito quieto. O rosto da mulher mudou de um espanto tristonho, para um terror infernal. O grito da mulher ao encarar o rosto de Tom seria audível pelo quarteirão inteiro caso a casa estivesse aberta. Eric não entendeu o que aconteceu até o momento que olhou para o rosto infeliz de seu filho. Seus olhos tomados por um branco sem vida encontravam-se manchados de sangue, como uma estatua triste que chora lágrimas rubras. Sua pele era incrivelmente branca e sua boca se banhava em saliva.
            A mulher não conseguiu soltar o braço de seu filho quando foi agarrada pelo pulso com força – seu pescoço sendo rasgado por uma mordida feroz. Ela sentiu a agonia de ter sua pele rasgada pelos dentes humanos. O sangue em abundancia jorrava, banhando o lado esquerdo de seu corpo, enquanto seus gritos eram abafados pelo sangue que começava a sair de sua boca. Seus olhos reviravam-se quando o pai do garoto o jogou com força para trás, fazendo o menino cair sobre a escada a qual acabara de cair.

- Meu Deus, o que é isso? MAGGIE! MAGGIE! – Atirou-se contra sua esposa, apertando-a contra seu próprio corpo. Ela esguichava aquele gosto horrível de sangue por sua boca, manchando a camisa azul clara de seu marido. – Amor… Por favor… – Mal conseguia falar. - VOCÊ FICOU MALUCO? – Gritou tomado pela fúria ao virar a cabeça na direção de seu filho. Rachel observara toda a cena sentada no chão da sala, seu rosto estava congelado naquela expressão de espanto antes de iniciar um longo choro.
            Eric ainda segurava sua esposa quando os olhos dela se mergulharam em uma melancolia eterna. Pousou o corpo de sua amada no chão manchado pelo próprio sangue. Lágrimas escorriam pelo rosto do homem ao se levantar. O corpo do garoto começou a se movimentar buscando apoio para poder se levantar. O gemido novamente era ouvido. Eric observara o filho quando se deslocou até a estante da sala onde de cima dela retirou uma pequena caixa prateada, abriu-a (em) meio a soluços de tristeza. No interior da caixa encontrava-se um revolver calibre .38 que cintilava com sua cor prata sobre a luz do lugar. Virou-se em direção ao filho que tentava manter-se de pé com grande esforço, o menino caminhava pesado na direção do pai que o observava choroso. A mancha de sangue em sua boca era destacada pela saliva que a fazia brilhar, olhava para seu pai com olhos mortos repletos de tristeza e fome.
            A mente do encanador estava distante, apesar de seus olhos não desgrudarem da face do filho. Em sua cabeça o baque pesado de passos o martelava com crueldade. Observou o rosto que causara espanto a sua amada  antes de perder a vida, e naquele instante Tommas aproximou-se o bastante para tentar agarrar o corpo do pai.

- Droga… Por que isso esta acontecendo? … Por que comigo? Não sei se suporto… – Empurrou novamente seu filho para trás com força, fazendo-o se distanciar o suficiente para apontar sua arma na face do menino. Tom se manteve imóvel por alguns instantes. Não suportou. Eric recuou a arma pressionando-a contra a própria cabeça.

– Não vou matar meu filho… – Neste instante Rachel soltou um sofrido suspiro de medo. O encanador acordou daquilo depois de sentir o salto da garota em sua direção, agarrando-lhe a perna esquerda com força. Eric sentia as lágrimas de sua filha em pranto. Aquilo o fez lembrar que não poderia tirar sua vida, abandonando a criança junto àquele monstro canibal que seu filho havia se tornado. Voltou a apontar a arma contra a cabeça do filho, que estava agora perto o suficiente, compondo sua última melodia de lamentação.
            Por toda a casa ouviu-se o barulho ensurdecedor da arma cuspindo sua chama da morte. O baque surdo do corpo caindo sobre o chão foi ouvido. Eric estava imóvel meio ao inferno que havia criado em sua casa. Abraçou sua filha com força a levantando no colo. Finalmente sentiu-se seguro quando caminhou até o sofá de sua casa. Rachel observava seu rosto com tristeza.

- Papai… A mamãe ta dormindo? – Aquela pergunta lembrou-o da inocência que uma criança possui, não merecendo presenciar tudo que tinha presenciado.
- Sim filha… A mamãe esta dormindo… – Chorava nos braços de Rachel ao escutar a inocente voz de sua filha se pronunciar novamente.  


- Papai… - Pausou apontando para o outro lado. - … A mamãe acordou…

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Sinfonia dos Aflitos, Capítulo 1: A tosse...

“Dificilmente alguém imaginaria que o mundo pudesse virar de ponta cabeça em apenas um dia. Certamente jamais imaginaríamos que estivéssemos tão próximos de um fim, ainda mais de um fim que apenas conseguíamos ver nas telas do cinema, ou até mesmo em jogos sanguinários onde você tem que sobreviver a qualquer custo. De fato o mundo mudou bastante…”

            Eric Butters vivia em sua pequena residência numa pacata cidade chamada New River no Arizona. Ao contrario de muitas das cidades naquela região, esta não possuía um clima deveras desértico, ou com uma temperatura consideravelmente elevada. Aquela pequena cidade possuía diversas árvores, o que tornava o ambiente muito mais fresco do que em algumas partes do Arizona.
            O homem vivia junto a sua família formada por sua esposa Maggie, sua filha Rachel, e seu filho mais velho Tommas. Sua família era muito comum, onde sua esposa dona de casa passava grande parte do seu tempo cuidando de sua filha Rachel que nascera há três anos. O garoto Tommas ajudava a família trabalhando em um mecânico, o jovem de dezesseis anos não dava um trabalho considerável à família, apesar de sua idade perturbada. Eric trabalhava como encanador, ficando geralmente a metade do dia fora de casa para conseguir ganhar dinheiro suficiente para sustentar sua família. Todos possuíam madeixas cor de mel, sendo suas peles consideravelmente brancas.

            Naquele dia, Eric estava dentro da casa do Sr. Douglas, um homem rechonchudo com aparência tristonha. O encanador arrumava alguma coisa que havia se soltara de baixo da pia. O Sr. Douglas jazia imóvel como um defunto sentado em sua poltrona, nem ao menos dava atenção à televisão que ficara ligada o tempo todo. Ao fundo Eric conseguira ouvir o noticiário local informando alguma coisa sobre uma epidemia de gripe em sua cidade.
- … Uma estranha epidemia de gripe surgiu em nossa cidade enquanto os médicos do único hospital que temos buscam entender a origem desta doença. – Alguma coisa esguichara em seu rosto, o que acabou enfurecendo o homem que não conseguira mais prestar atenção nas noticias devido ao trabalho um tanto quanto barulhento. Na sala a noticia continuava. – As mais de quinhentas pessoas contaminadas que já foram encaminhadas ao hospital, continuam internadas mantidas sobre quarentena. – Obviamente muitas das pessoas que estavam contaminadas com aquela gripe ainda não haviam procurado o hospital, graças a noticia que informara a super lotação do hospital graças à enorme quantidade de pessoas com aquela doença.

            O final do dia foi acompanhado por uma música relaxante até a garagem de sua casa. Ao voltar do trabalho o homem passara no estabelecimento que seu filho trabalhava para então dar-lhe uma carona até em casa. O cheiro de ensopado penetrara no nariz dos dois que adentravam a sala naquele instante, o cheiro fez ambas as barrigas roncarem de fome. Não demorou ao lençol negro da noite cair sobre aquela cidade, fazendo a iluminação noturna começar a funcionar. Jantaram tranqüilamente conversando sobre o que havia ocorrido em seu dia, porém, Eric lembrou-se da noticia que tinha escutado na casa do rechonchudo Sr. Douglas.

- Amor… – Engoliu a comida em sua boca. – Você soube alguma coisa sobre essa epidemia maluca que ta rolando ai na cidade? – Pausou esperando uma resposta de sua mulher.

- Sim, ia falar sobre isso com você agora. – Olhara para o filho que logo retribuíra o mesmo olhar para a mãe. – Tom esteve tossindo hoje de noite, espero que seja apenas o vento frio de ontem, e não essa doença que esta deixando um monte de pessoas hospitalizadas. Falando nisso, a Sra. Elizabeth nossa vizinha esta internada, seu marido ficou em casa, preferiu não ir ao hospital. Pelo jeito temos que tomar cuidado, parece ser grave. – Afirmou o que com certeza todos ali sabiam, afinal uma epidemia não era algo simples de se tratar.
- Se for assim, acho melhor o Tom não ir trabalhar amanhã, quem sabe não foi algum parceiro de trabalho dele que passou isso pra ele. Isso se for a gripe mesmo… – Olhou para o filho, agora notando certa fraqueza em sua face. O resto do jantar foi silencioso, apenas limparam seus pratos e levantaram-se para fazer suas coisas.

            O noticiário noturno continuava a falar sobre a epidemia, enquanto quase todos na sala prestavam atenção na televisão. Eric observava a janela da sala quando pousou sua mão canhota sobre um pedaço de papel, que ao olhar notou ser o jornal diário. Passou os olhos sobre as noticias, pegando coisas como, “O time da cidade continua vencendo os jogos…”, “Homem é baleado ao reagir um assalto.”, “Helicóptero militar cai próximo a cidade…”, “Ontem foi considerada a noite mais fria do ano…”, “Os ventos fortes que passaram sobre a cidade na noite de ontem derrubaram três árvores…”, não prestara muita atenção nas noticias, apenas folheou lendo por cima as informações quando então o sono castigou-lhe com aquela incrível fadiga. Logo, todos estariam dormindo. A noite começara a ficar mais fria, quando subira para seu respectivo quarto, deitando em sua cama, junto a mulher. O berço da criança ao pé da cama parecia quieto. Já o quarto de seu filho produzia ecos de sofrimento, tosse atrás de tosse. "Aquele garoto precisa melhorar... Espero que não passe de uma simples gripe.", pensou já cansado, enquanto seus olhos fecharam pesados. Mergulhou no manto calmo dos sonhos, retirando toda a preocupação de suas costas.

Naquela noite a tosse de Tommas piorou…


Diário dos Pesadelos; Introdução!

  Olá caros leitores, venho aqui trazer a vocês uma pequena introdução, contando o que é essa obra, e o que vocês irão encontrar neste “BLOG”. Uma coisa eu sei, vocês não vão ter arrependimentos ao final de ler cada capítulo, ou cada conto, pois certamente os seus cabelos vão ficar de pé ao olharem para trás e começarem a imaginar tudo que estavam lendo.

 Neste lugar vocês vão encontrar pequenas historias contadas com detalhes sobre imaginações, ou enredos que acabam por surgir em minha mente. Muitos dos temas abordados aqui serão sobre “Zumbis”, misturando tudo que vocês já conhecem sobre esses carinhas bacanas, como outras coisas que tornam a minha mente um verdadeiro parque de terror macabro.

  Abordarei temas como Terror, Suspense, Ficção cientifica, e é claro, drama. Muitos dos contos poderão mexer com a cabeça de vocês, enquanto outros vão trazer um grande entretenimento para o tédio diário de suas vidas. Algumas das historias poderão ter ligações com as outras, como também vão existir historias paralelas que não tem o menor sentido se comparadas com as demais, ou seja, contos com temas diferentes.

  Você já deve ter sonhado com Zumbis, Fantasmas, Demônios, e todas essas coisas que fazem a gente sentir calafrios, ou sempre manter um olhar aberto para ver se acaba notando alguma coisa anormal ao nosso redor. Vocês irão ler pesadelos não sonhados que vão animar ou perturbar suas noites. Mas não tenham medo, tudo que vocês vão ler, serão historias falsas, nenhuma já aconteceu, a não ser que eu resolva escrever algumas das historias baseadas em fatos que já aconteceram, tanto em minha vida, como nas demais.

  Muito obrigado pela atenção, e espero que vocês gostem do que vão encontrar aqui, pois estarei escrevendo entregando-me de corpo e alma para agradar apenas vocês.